Análise Técnica na Prática: Da Teoria aos Movimentos Recentes do S&P 500
Para o investidor que já domina o básico sobre ações, surge inevitavelmente a questão de qual método utilizar para identificar os ativos com maior potencial de valorização ou risco de queda. Nesse momento, o mercado se divide essencialmente em duas escolas: a análise fundamentalista, focada no negócio e no setor da empresa, e a análise técnica. Esta última, frequentemente vista como um caminho mais ágil por dispensar o estudo profundo de balanços, foca na interpretação de gráficos e índices.
A análise técnica, ou gráfica, baseia-se na premissa de que a história dos preços tende a se repetir. Popularizada por Charles Dow, fundador do Wall Street Journal, a teoria sustenta que o preço de um ativo desconta tudo. Salvo eventos imponderáveis como desastres naturais, as cotações refletem instantaneamente todas as informações disponíveis. Logo, a oscilação não deriva apenas da gestão da empresa, mas da psicologia coletiva dos investidores, indicando o que o mercado considera caro ou barato em determinado momento.
A eficácia dos padrões gráficos
O objetivo central de quem utiliza os gráficos é identificar tendências — seja de alta (acumulação), baixa (distribuição) ou lateralização — e operar a favor delas. É uma ferramenta essencialmente especulativa, ideal para operações de curto a médio prazo, como day trade ou swing trade. A ideia é aproveitar a irracionalidade momentânea do mercado.
Estudos acadêmicos corroboram a utilidade dessa abordagem. Uma pesquisa conduzida por Thomas N. Bulkowski ao longo de 14 anos, analisando mais de 500 ações americanas, apontou que a análise técnica previu corretamente entre 80% e 90% dos movimentos. Mesmo estimativas mais conservadoras apontam para uma efetividade próxima de 70%, o que valida o gráfico como um instrumento robusto de decisão.
O S&P 500 sob a ótica técnica atual
Aplicando esses conceitos ao cenário atual do mercado americano, observa-se um momento decisivo para o S&P 500 (SPY). O índice rompeu seu canal de tendência em novembro e a característica do rali mudou. Embora o mercado tenha subido lentamente na última semana, aproximando-se a 25 pontos de sua máxima histórica, a seleção de ações individuais tornou-se mais desafiadora à medida que a liderança de certos papéis diminui.
A leitura técnica sugere que o S&P 500 pode estar em um processo de formação de topo, embora isso possa levar vários meses para se concretizar. A estratégia desenhada para o momento envolve vender nas altas próximas aos 7.000 pontos, mantendo uma posição comprada central e adicionando apenas nas correções. O pico anterior de 6.920 deve ser superado ainda este mês, impulsionado pela expectativa do corte de juros e do tradicional “rali de Natal”.
Níveis críticos e projeções de Fibonacci
Olhando para os patamares de preço, o rali encontrou resistência no topo do canal. O pico de 6.921 está logo abaixo de um alvo maior em 6.958, que corresponde à extensão de 161% de Fibonacci da queda anterior. É provável que o índice enfrente dificuldades para sustentar um rompimento dessa área imediata. Passando desse ponto, um movimento medido semelhante aos ralis de 2020-2022 e 2022-2025 projetaria o índice para a casa dos 7.490 pontos.
Por outro lado, os suportes relevantes encontram-se nas mínimas de outubro e novembro, entre 6.521 e 6.550, seguidos pela alta de agosto em 6.508. O nível de 6.147 é crucial para a manutenção do bull market atual, pois marca o topo anterior. Além disso, sinais de exaustão, como a contagem DeMark, indicam que, embora não deva haver um sinal de exaustão mensal em 2024, janeiro ou fevereiro de 2025 podem trazer fraqueza.
Volume e comportamento semanal
A análise do perfil de volume mostra uma concentração clara em torno dos 6.000 pontos, sugerindo que uma distribuição normal formaria uma curva de sino ao redor desse nível. Considerando a mínima de 4.835, que está 1.165 pontos abaixo dessa zona de volume, uma projeção simétrica para cima levaria o topo do rali para cerca de 7.165. Embora não seja uma ciência exata, isso reforça outras técnicas que apontam para a formação de um topo na região dos 7.000.
No gráfico diário, nota-se que o avanço recente ocorreu de maneira diferente das semanas anteriores, com sessões menos vigorosas. Isso é compreensível dado o longo caminho percorrido em pouco tempo. Um recuo ou consolidação seria saudável antes de tentar romper a resistência de 6.920.
O impacto do Fed e a fragmentação do mercado
No cenário macroeconômico, um corte de 25 pontos-base pelo Federal Reserve na próxima quarta-feira é dado como certo e não deve atuar como um grande catalisador. A incerteza reside no tom do comunicado: suspeita-se de uma postura mais dura (hawkish), alertando sobre a inflação e a necessidade de aguardar mais dados. Isso configura um clássico cenário de “comprar no boato, vender no fato” no curto prazo.
A ação do mercado tem se mostrado fragmentada desde o rompimento do canal de tendência de longo prazo em novembro. Muitas ações de alto crescimento sofreram correções agudas e algumas bolhas especulativas parecem ter estourado. Como a próxima reunião do Fed ocorrerá apenas no final de janeiro, dados de emprego fracos ou aumento do desemprego até lá poderiam forçar novos cortes, gerando volatilidade nas próximas semanas.