Do campo ao comando: a trajetória de Belmiro Gomes, o ex-boia-fria que transformou o Assaí em gigante do varejo

A rotina de Belmiro Gomes, presidente do Assaí Atacadista, está cada vez mais intensa. Além das responsabilidades administrativas à frente de uma das maiores redes de atacarejo do Brasil, ele tem marcado presença nas inaugurações das novas unidades da marca — muitas delas resultado da conversão dos antigos hipermercados Extra adquiridos pelo grupo. Somente neste ano, 40 novas lojas serão abertas em diferentes regiões do país. Na última sexta-feira, antes das 9h da manhã, Belmiro já participava da cerimônia de abertura de uma unidade em Interlagos, na zona sul de São Paulo, com uma jornada que só terminou 12 horas depois.
“Quem vai a uma inauguração se lembra daquele momento sempre que passa em frente à loja. É preciso dar o exemplo”, afirma o executivo, que ocupa o cargo desde 2011, época em que o Assaí contava com menos de 40 lojas e presença modesta no território nacional.
Em pouco mais de uma década, o número de lojas quintuplicou, ultrapassando os 230 pontos de venda. Belmiro é conhecido por acompanhar de perto cada detalhe da operação, o que lhe rendeu o apelido de gestor “barriga no balcão”. Apesar das longas jornadas, garante que a saúde vai bem e que os fins de semana são, em sua maioria, dedicados à família. Pai de quatro filhos e dois enteados, o executivo recebeu recentemente a notícia de que será avô.
Um dos maiores méritos de Belmiro, segundo colegas e analistas do setor, é ter conduzido o crescimento do Assaí sem abandonar a essência do modelo atacadista: manter os custos operacionais baixos para oferecer preços acessíveis ao consumidor final. Ele reconhece que sua trajetória de vida o ajuda a entender a importância disso. “Sempre me fascinou a ideia de vender um produto 15% mais barato. Isso faz diferença para quem está do outro lado do balcão”, comenta.
Nascido em Santo André (SP), Belmiro se mudou ainda criança para Maringá (PR), após seu pai adoecer e a família buscar apoio no interior. Irmão do meio entre três filhos, ele começou a trabalhar muito cedo: vendeu sorvetes, engraxou sapatos e foi boia-fria. “Tive minha primeira carteira assinada aos 13 anos”, relembra.
Essa experiência precoce no mercado de trabalho foi o ponto de partida para uma carreira sólida no setor de alimentos. Aos 15 anos, começou na rede paranaense Musamar. Depois, passou 20 anos no Atacadão, chegando à empresa antes mesmo da aquisição pelo Carrefour em 2007. Hoje, aos 50 anos, Belmiro acumula 35 anos de experiência e testemunhou de perto a transformação do atacarejo no Brasil.
Ele lembra que, no início, o modelo era voltado majoritariamente para empresas e exigia cadastro com CNPJ. A estrutura era simples e pouco atrativa para o consumidor comum. “Era um formato espartano, e o calcanhar de Aquiles era a experiência de compra, que deixava a desejar”, recorda.
Essa realidade mudou. Atualmente, 93% dos itens encontrados nos antigos hipermercados já estão disponíveis no atacarejo. Um dos avanços mais relevantes foi a implantação de açougues nas lojas, algo muito solicitado pelos clientes. Algumas unidades, inclusive, passaram a contar com adegas para atender perfis específicos de consumidores.
Segundo Belmiro, compreender o perfil de consumo de cada bairro é essencial para definir o mix de produtos de cada loja. Esse olhar atento ao consumidor ajudou o Assaí a se consolidar como referência no setor.
O crescimento da empresa é notável também no mercado financeiro. De uma rede adquirida pelo Grupo Pão de Açúcar (GPA) por R$ 400 milhões entre 2007 e 2009, o Assaí hoje está avaliado em R$ 27 bilhões na B3. Desde que se separou do GPA, passou a ter valor de mercado superior ao da empresa-mãe, que atualmente está avaliada em cerca de R$ 6 bilhões.
A história de Belmiro Gomes é um exemplo de superação e liderança com foco no cliente. De origem simples, ele conseguiu escalar as posições mais altas do varejo nacional mantendo os pés no chão e os olhos atentos à realidade dos brasileiros.