Vale a pena investir na Tesla abaixo de US$ 500?
A Tesla (NASDAQ: TSLA) pode ser considerada uma das ações mais difíceis de se manter na carteira com tranquilidade, devido à intensa volatilidade que o preço de seus papéis tem apresentado ao longo dos anos. No entanto, para alguns investidores, ela tem sido uma aposta vencedora. Suas fases de sucesso a transformaram em uma das empresas mais valiosas do mundo, com um valor de mercado próximo a US$ 1,5 trilhão. As ações da fabricante de veículos elétricos (VE) subiram cerca de 105% nos últimos cinco anos e estão próximas da máxima histórica atingida em dezembro passado. Diante desse cenário, surge a dúvida: os investidores devem comprar Tesla enquanto ela está abaixo de US$ 500?
Uma visão de futuro transformada
A perspectiva otimista para a Tesla baseia-se na sua transformação em uma empresa de software, robótica e inteligência artificial. É exatamente assim que o CEO Elon Musk deseja que os investidores enxerguem o negócio. A empresa possui opcionalidade de longo prazo com suas operações de robotáxi, que atualmente transportam passageiros pagantes em Austin e na região da Baía de São Francisco em capacidade controlada, com expansão prevista para mais cidades. O objetivo é alavancar esse negócio em muito mais mercados, não apenas nos EUA, mas internacionalmente.
A premissa assume que, à medida que a demanda e o uso aumentam, os custos como proporção das receitas diminuirão. O melhor cenário seria a Tesla gerar uma quantidade colossal de receita recorrente e de alta margem a partir de carros sem motorista. Além disso, robôs humanoides podem representar uma oportunidade ainda maior; Musk estima que esse segmento poderia ajudar a Tesla a atingir um valor de mercado de US$ 25 trilhões. Parece haver mercado para esses dispositivos entre clientes comerciais para uso em fábricas, além de uma possível demanda doméstica.
Desafios financeiros e valuation esticado
Em resumo, daqui a uma década, a Tesla pode parecer totalmente diferente do que é hoje. Entretanto, ao analisar estritamente sua situação atual, nem sempre é fácil manter o otimismo. O crescimento da receita desacelerou drasticamente devido a uma combinação de concorrência intensificada, taxas de juros mais altas e uma reação negativa de parte do público em relação às incursões de Musk na política. Os lucros também estão sob pressão: sua margem operacional no terceiro trimestre de 2025 foi de 5,8%, uma queda acentuada em relação aos 10,8% registrados no mesmo período do ano anterior.
Avaliar empresas como a Tesla pode ser complexo. Com base em métricas tradicionais, como a relação preço/vendas de 17 ou o preço/lucro de 304, a ação parece ridiculamente supervalorizada. Esperar-se-ia que investidores pagassem tais prêmios apenas se a empresa estivesse apresentando desempenhos financeiros notáveis e crescimento monstruoso, o que não tem ocorrido recentemente.
A promessa dos Robotáxis em Austin
Em meio a esse cenário financeiro misto, Elon Musk fez novas promessas ousadas. O CEO afirmou que a empresa removerá os “monitores de segurança” dos assentos de passageiros dos veículos Robotáxi em “cerca de três semanas”. Se esse cronograma se mantiver, poderemos ver Teslas completamente sem motorista na área de Austin até o final do ano. Durante uma videoconferência em um hackathon da xAI, Musk declarou que a condução “não supervisionada está praticamente resolvida neste ponto” e que estão apenas passando pela fase de validação.
A Tesla tem trabalhado em um sistema que permitiria aos veículos dirigirem sozinhos, que está em versão “beta” há mais de uma década. Denominado “Full Self-Driving” (FSD), o sistema ainda não dirige totalmente sozinho, apesar do nome. Isso não impediu Musk de prometer consistentemente veículos autônomos “no próximo ano” ao longo da última década, com prazos passando sem que o objetivo fosse alcançado.
Ceticismo histórico versus dados recentes
O prazo de “três semanas” soa familiar para os seguidores de longa data da empresa, lembrando as famosas promessas de “duas semanas” para correções de software que frequentemente demoram muito mais. Embora a Tesla tenha lançado sua versão de rede de táxi em Austin em junho deste ano, os carros ainda contam com um monitor de segurança no banco do passageiro. Desde o lançamento, o sistema cometeu erros e teve uma alta taxa de acidentes, embora a empresa tenha realizado um evento de entrega de um veículo totalmente desocupado a um comprador local.
A principal concorrente da Tesla neste espaço é a Waymo, que já opera veículos verdadeiramente sem motorista há vários anos, inclusive em Austin desde março. Contudo, apesar do ceticismo justificado, há analistas vendo sinais de mudança. Alexander Potter, do Piper Sandler, escreveu em nota aos clientes que o banco acredita que o FSD está “muito próximo” de se tornar não supervisionado.
Sinais de um ponto de inflexão
A equipe do Piper Sandler citou dados do “FSD Community Tracker”, um site independente que mede a eficácia do sistema. A métrica principal, referida como “milhas até desengajamento crítico”, exibiu uma melhoria de mais de 20 vezes após o lançamento da versão v14.1.x em outubro, saltando de 441 milhas na versão anterior para mais de 9.200 milhas. Segundo Potter, os dados de Austin implicam que um carro equipado com FSD poderia rodar aproximadamente três anos sem acidentes, considerando a média de condução da maioria das pessoas.
Essa melhoria drástica nos dados pode significar grandes novidades para o teste de Robotáxi. Potter concluiu que a Tesla está provavelmente muito perto de remover os operadores de segurança, reiterando sua classificação de “Overweight” (alocação acima da média) e preço-alvo de US$ 500.
Enquanto Musk alega que a versão mais recente permitiria até enviar mensagens de texto ao volante “dependendo do contexto”, a realidade legal e regulatória ainda impõe barreiras, já que isso é ilegal em quase todos os estados dos EUA e a autonomia total nível 4 exigiria aprovação da NHTSA. O próximo ano promete ser decisivo para a condução autônoma, com analistas do Morgan Stanley prevendo que 2026 será um “ponto de inflexão” para a tecnologia, embora mantenham uma perspectiva geral menos otimista que a do Piper Sandler.